terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Conversas de café


Dois amigos, nos trintas, sentados a uma mesa, a beber minis.


- Já ouviste o novo single dos Bon Jovi? Granda malha!

- Não! O que é uma grande malha?

(O outro ignora-o e canta a música)

Essa já ouvi. É nova?

- É!

- Igual às outras todas. Cansa-me ouvir uma música nova e ser mais do mesmo.

- Percebo o que queres dizer, mas… É o estilo deles.

- Estilo…é tudo igual. Mas são quase todos. Têm sucesso com uma música e refazem-na até à exaustão.

- És capaz de ter razão, mas é assim que a música funciona. Se fizerem coisas diferentes de álbum para álbum o pessoal é capaz de ignorar. E refazer algo algumas vezes, sempre com sucesso, não é para todos.

- Hum…Não sei. Gosto de variedade, admiro uma banda que me cative não tocando sempre o mesmo. Olha os U2…

- Que banda, grandes músicas.

- Grandes músicas…ya…Diz-me uma a partir de 95 que seja de jeito.

- Sei lá, olha, “stuck in a moment you can´t get out” (a cantar o refrão)

- Diz-me outra…

- Não sei…

- Pois…Eu não gosto de nada deles desde o Zooropa.

- Esse não é aquele álbum meio de dança?

- É! Para mim é o melhor álbum deles. Zooropa, Numb, Lemon, .Stay (Faraway, So Close!), Daddy's Gonna Pay for Your Crashed Car, The Wanderer.

- Que treta de álbum. Mas tu gostas de música de dança?

- Daquela gosto. O meu objetivo é esse, ouvir o pessoal que gosto a mudar, se não de estilo, pelo menos de ritmos, ambientes. É o meu álbum favorito deles.

- É o que eu menos gosto. Mas se é para ouvir à noite numa disco ou bar, prefiro Beastie Boys, gostas?

- Dos singles, que é o que conheço. Mas do pouco que conheço, nada como o Right to Party. Mas reconheço que mudaram ao longo dos tempos. Os U2 não, cristalizaram os singles e pimba. One, with or without you, Stuck in a moment without you, Beatiful Day, With or without you. É tudo igual.

(Este gajo é parvo, pensa o outro)

- Mas de que é que tu gostas? Diz lá as tuas bandas favoritas.

- Não sei se tenho bandas favoritas, tenho os álbuns todos dos Pearl Jam até determinada altura, mas depois fartei-me.

- Tudo igual? (cinicamente)

- Ya, um pouco. Parei no Binaural. (Faz um ar de desgosto)

- Qual é a tua música favorita deles?

- Yellow Led Better. (canta) “Ah yeah, can you see them out on the porch? Yeah, but they don't wave.

I see them round the front way. Yeah. And I know, and I know I don't want to stay. Make me cry...”

- Não conheço, mas Pearl Jam não é muito a minha onda. Eu era mais Nirvana.

- Só o Bleach.

- O Bleach? Aquilo é só barulho.

- Ya, cru, básico, um pouco redundante em termos de letras, mas musicalmente, o melhor álbum deles!

- Melhor? Tu estás a brincar comigo. Melhor do que…

- Que qualquer um dos outros, melhor que o In Utero, que o Nevermind, ou aquela bosta do MTV Unplugged.

- Tu és é do contra.

- Não, man, sou é mais alternativo. Coisas comerciais cansam-me, sabes?

- Deves ser daqueles que quando um gajo começa a ter sucesso deixas de ouvir.

- Um bocado, ya.

- És como aqueles freaks que colecionam somente os nºs 1 das bandas desenhadas?

- Nunca tinha pensado nisso. Sou um bocado, sabes? Tenho álbuns de algumas bandas, mas o que acontece, acontecia, que hoje já não compro grande coisa, é que quando comprava um álbum que gostava bué, por vezes, a maior parte das vezes, já não conseguia comprar mais nenhum.

- A sério?

- Ya, não acredito que a inspiração bata à porta muitas vezes.

- Dá-me exemplos.

- Draconian Times…

- Uh? Draquê?

- Paradise Lost, meu, tinha um álbum deles antes deste, o Shades of God, mas nunca mais consegui ouvir mais nada, nem para a frente nem para trás. Tales from the Thousand Lakes dos Amorphis.

- Dos quem?

- Tem uma versão bué louca do Light my fire, dos Doors.

- Mas isso é só música pesada, não ouves nada mais comercial?

-Tu é que perguntaste sobre o que eu gostava de ouvir. E já te disse que sou mais alternativo. Tindersticks, Nick Cave.

- É isso que não entendo. Mandas vir com gajos que fazem sempre a mesma música. Epá, se ouvir uma música de Tindersticks ou de Nick Cave já ouvi todas.

- Mas isso é porque não gostas. Aceito em parte a crítica em relação aos Tindersticks, mas mesmo assim, os álbuns são diferentes.

- Bon Jovi é tudo igual, Nick Cave não? Deves estar a gozar comigo!

-Bon Jovi é um bocado assim para…

(o outro espera, olha para ele nos olhos, convidando-o a continuar)

-Sim?

-Música de gaja, pronto. Ouvir Bon Jovi de livre escolha é somente triste.

-Triste? Triste és tu, Nick Cave e Tindersticks é que é música triste, depressiva, de cortar os pulsos. Aquilo arranha-me os ouvidos.

- Acontece a gajos que ouvem Bon Jovi. Música melancólica não é forçosamente música para cortar os pulsos. Música para cortar os pulsos é Beyoncé, Lady Gaga, nem sei como é que chamam música aquilo.

- Estás a mudar o bico ao prego.

- Não estou. Só estou a tentar dizer que aprecio o melancolismo. Olha, o meu género favorito é o jazz, porque passas por diversos estados de espírito, às vezes, dentro do mesmo álbum.

- E nada repetitivo.

- Repetitivo enquanto género, claro. Ou vais-me dizer que há muitas diferenças entre bandas de rock, pop, ranchos folclóricos, ouves um rancho folclórico e já ouviste todos. (ri-se com a piada)

(O outro parece desistir)

- Pedimos mais uma? Ou é muito repetitivo?

- A abaladiça, depois tenho de ir.

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