quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Conversas de Café II



(Mesma mesa, duas minis)

- Que é que andas a ler?

- Um policial francês, um livro de contos sul americano, um livro sobre a segunda guerra mundial e uma biografia sobre o Thelonius Monk.

- Sobre quem?

- Um músico de jazz, um génio. Conheces aquela música, “Just a gigolo”? (cantarola)

- Ya, do David Lee Roth. (abana a cabeça, fazendo com que uma garrafa quase caia)

- Surpreendes-me, tantas versões e escolhes a pior. Mas és coerente.

- Coerente?

- É a versão do gajo com o cabelo mais parecido com o do Bon Jovi dos anos oitenta. (Sorri)

- Vai-te lixar. O que é que isso tem a ver com o Monk?

- A música é dos anos 30 ou 40, não sei bem, o Monk fez uma versão fenomenal, está no Misterioso, o meu álbum favorito dele.

- Não conheço. E estás a ler isso tudo? Como é que consegues ler tanto livro ao mesmo tempo? Não confundes as coisas?

- Não, são livros diferentes, distintos. Mas mesmo que não fossem, cada livro tem um ritmo diferente, e eu entro em cada um deles de forma distinta. Tenho lido livros ao longo de um ano, e outros ao longo de um dia. Há livros que me cansam a determinada altura, leio um ou dois e depois volto ao que deixei, eventualmente.

- Ultimamente ler cansa-me, acho que por ter andado a preparar os relatórios para a empresa e a ler alguns livros técnicos, deram cabo de mim. Ando a ler um dos livros do George R. R. Martin, mas encalhei. Acho que vou esperar pela série.

- Andas a ler qual?

- Nem sei, o 7º ou 8º. Cada vez que acabo um, vou comprar o seguinte e tenho de ir ver o número. Não decoro os nomes. A Lídia é que ficou contente, dei-lhe As Cinquenta Sombras de Grey. Conheces?

- Li um bocado, sem saber ao que ia, em e-book, bem antes de chegar cá a Portugal. Prefiro o 50 Shades of Chicken.

- Preferes o quê?

- É um livro de culinária a parodiar o que tu deste à Lídia, com receitas de frango/galinha.

- As coisas que tu descobres. Esse eu era capaz de gostar, o outro não li, o que achaste?

- Epá, sadomaso? Deixa estar.

- Sadomaso, a sério? Não sabia. (Dá uma gargalhada)

- Conhece melhor aquilo que ofereces, pá. Qualquer dia levas com o chicote…

- Achas? Mas ela diz que aquilo é muito bom.

- Isso é que eu acho estranho, tantas campanhas contra a violência doméstica e depois o livro mais vendido em Portugal é um livro de sadomaso, faz-me espécie.

- Vendo desse prisma…

- A sério… se um tipo dá um estalo numa mulher ou pior é crime, o que acho bem, mas depois elas andam a ler um livro sobre práticas pouco…pouco…epá, ser amarrada e coisas que tais, sei lá, parece-me um bocado deprimente. Andam anos a pensar no príncipe encantado e em vez de um sapo transformado em príncipe sai-lhes um príncipe transformado em Sade. Não percebo.

- Pois…Vou andando, vens?

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