sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Há duas semanas li divertido uma notícia sobre operações stop para multar (há operações stop por outras razões?) condutores com música pirateada. Esquecendo o ridículo da coisa, coloca-me à vontade, não tenho um único cd pirateado no carro, até porque o rádio do carro é averso a novas tecnologias.
Aliás, é tão averso a novas tecnologias que nem todos os cds originais lê. Compra um tipo cds novos a preços da chuva (diretamente da Amazon), para ter alguma música nova no carro e o rádio recusa-se a replicar o Nick Drake  e os White Stripes.
Venham as operações stop ou um rádio novo

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Nunca me preocupei com insetos e outras faunas que gostam de sugar sangue, vampiros incluídos. No entanto, o susto que apanhei este fim de semana pode alterar este estado de espírito.
Na 5ª feira, a caminho de casa, fui picado por um inseto incógnito. A mão inchou, mas como sempre fui esperando que a situação se resolvesse. No sábado, vencido pela dimensão da mão e olhares preocupados de conjuge e pais, lá me encaminhei ao Centro de Saúde.
Injeção, pomada (se pensaram em Fenistil, acertaram) e Atarax, medicamento que me enviou para uma dormência inusitada.
A injeção fez-me temer pela vida e ansiar por um inseto, o enfermeiro que ma deu pouco percebe daquilo, e se levei uma mão inchada trouxe outra negra. A pomada pouco efeito surtiu nesse dia e ontem, já o Atarax pôs-me a dormir acordado e a ansiar pela caminha durante toda a tarde, ainda hoje estou cheio de sono, mas enquanto a mão não desinchar...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

do mar escuro e do que se vê num oitavo andar

^Veem-me à memória as primeiras páginas de As Ilhas Desconhecidas de Raúl Brandão, onde o escritor relata a viagem de barco noturna, na penumbra, ouvindo o barulho do barco que parece desconjuntar-se e sem luz à sua volta, mutatis mutantis, de vez em quando, olho pela janela do oitavo andar, pela uma ou duas da manhã, mesmo pelas quatro, dependendo da janela o que vejo não é escuridão, são luzes, umas mais fortes do que as outras. Hoje de manhã, pelas seis, fui acordado pela vizinha de cima já em saltos altos, levantei-me silenciosamente, para deixar a esposa dormir mais um pouco, e assomei-me à janela, ela teima em deixar as persianas abertas, claro que não precisava de olhar para fora já que a luz teima em entrar.
Lembrei-me de Raúl Brandão pelo contraste, mas também pela lembrança de uma falha de energia, há uns meses, toda a paisagem que as minhas janelas vislumbram (com exceção de Lisboa e do Barreiro), apagou-se. Talvez pelo prédio não ranger, nem se mover, sorri com a beleza de uma noite verdadeiramente escura.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Amanhã volta o rebuliço, a discussão, a estupidez do campeonato nacional. Sim, deve ser um resquício de ter o refugo do refugo como treinador, mas nem vos digo como estas quase duas semanas souberam bem.
Afinal, não é campeonato, mas taça. Vai dar ao mesmo, sinceramente.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Por muito que me esqueça,
por muito que me lembre,
por muito que ache que tu o sabes,
por muito que ignore que te magoo
por não to dizer,
a verdade é que tu és eu e eu sou tu.
amo-te
mais do que as vezes que me esqueço de o dizer.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ao olhar pela janela reconheço que a noite desceu,
está quase a ser enrolada pelos raios de um novo dia
e eu ainda aqui, sem saber o que fazer,
perdido num cansaço sem sono.
Sem ti.
O dia não te trará para mais perto,
mas os raios podem ofuscar-me e
enganar-me numa falsa sensação
de proximidade.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Terra Nova




Terra Nova é uma das novas apostas da FOX para a fall season de 2011, Steven Spielberg aparece como produtor e a série tem sido descrita como uma mistura de Lost com Jurassic Park.

A ação começa em 2149, no planeta terra, com a poluição e o excesso de habitantes a ameaçarem o futuro da humanidade. 
Uns cientistas malucos (redundância, eu sei) descobriram um buraco no tempo que permite a alguns escolhidos habitarem uma outra Terra (evitam-se os problemas das ações terem repercussão no presente), 85 milhões de anos no passado.
É neste contexto que conhecemos a família Shannon (Jim, o pai entretanto fugido da prisão, Elisabeth, a esposa cientista, e os três filhos Josh, Maddy e Zoe) que se juntam ao décimo grupo de "peregrinos" em Terra Nova.
O primeiro episódio (duplo, com duração de duas horas) apresenta-nos à família Shannon e ao ambiente de Terra Nova, tanto da terra, como da série.
A família tem um número anormal, já que a lei proíbe mais de dois filhos, a razão do pai ter de fugir da prisão prende-se com a decisão de terem levado avante a última gravidez. A ver vamos se a realidade futura deixada para trás terá algum impacto em episódios futuros, quando chegam a Terra Nova a indicação é que não. Há dinossauros, uns mais vegetarianos do que outros, há um grupo (sixers, do sexto grupo) de renegados e há muita história para conhecer, inclusive uma variante das pinturas de foz côa, mas com qualidade (afinal foram desenhadas por humanos do século XXII)!
Terra Nova é um produto mais cinematográfico do que televisivo, percebe-se pelos valores em causa, pela qualidade dos efeitos especiais. Cada episódio tem um orçamento de 4 milhões de dólares e foram construídos mais de 250 sets. O Presidente da Fox Entertainment, Kevin Reilly, comentou "This thing is going to be huge. It's going to take an enormous production commitment." Ao contrário do normal, a FOX não pediu um episódio piloto, mas avançou com uma série inicial de 13 episódios.
Por um lado, isto mostra a aposta e fé na série e sucesso desta, isto de um canal que tem apostado em Fringe (yuppii), mesmo sem grandes audiências. O primeiro episódio teve bons resultados tanto a nível de audiência, como de crítica.
Pessoalmente, não desgostei do primeiro episódio, mas também não delirei. Mas poucos são os pilotos que conseguem impressionar e, quando impressionam, poucos são os que mantêm a qualidade.
Terra Nova cativa, neste momento, mais a nível dos décors e efeitos especiais do que da narrativa; o segundo episódio foi uma desilusão, cliché atrás de cliché, nenhum mistério, nenhuma razão para me obrigar a voltar para o próximo episódio, somente dinossauros voadores. Houve construção e definição das personagens, nice, e então? Pagar 4 milhões para episódio e esquecer de contratar argumentistas é mesmo uma aposta arriscada.
Por enquanto, Terra Nova é uma aposta cara, pouco inovadora, ainda com pouca definição do que quer em termos narrativos, vai cativando, mas pouco mais. Veremos se o futuro é promissor, por enquanto, prefiro Primeval, que com poucos (comparando com os budgets americanos) meios vai fazendo maravilhas.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Já me esquecera o quão bom, principalmente em tempos de crise, ler Terry Pratchett. O humor é inglês, desculpem-me os nacionalistas.

Modo Projeto Doutoramento

Cinco dia sempre a escrever? Isto já não acontecia há algum tempo...e vamos a ver se se repete na próxima semana(até 5ª Feira está garantido), já que o prazo de entrega do Projeto de Doutoramento é dia 15 e as aulas começam já na 2ª feira e o Gabinete de Relações Externas não tem parado neste início de semestre e... eu estou quase a flipar!!! Haja trabalho!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Menina do Magnum Branco

Pouco tempo te tive, mas como esse pouco se multiplica quando penso em ti.
Com uma mordacidade, humor e simplicidade, pouco típicas de uma criança, cativaste-me, cativaste-nos.
Se calhar somos nós, adultos, que se perdem numa maturidade acéfala, e teimam em acriançar adultamente as crianças que crescem. Mas deixemos de falar de nós, adultos, tenho saudades tuas.

Do sotaque, da crítica bem disposta, do sorriso, dos abraços, do carinho, do riso, de gozares comigo, da timidez, da sinceridade, tenho saudades de ti, gulosa.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

comemorações

Mesmo que não quisesse já todo o jornal, perdão, suplemento de jornal e revista especializada na área me/nos relembrou que o in utero dos Nirvana saiu há 20 anos. Não me apeteceu ir ver, mas gostava de saber há quanto tempo saiu este. Agressividade por agressividade, este continua a ser o meu álbum favorito dos rapazes de Seattle. Todas as temáticas, todos os demónios de Cobain estão ali, parece-me que o futuro de Cobain também mora ali.






terça-feira, 4 de outubro de 2011

Admiro as pessoas que conseguem dizer o que pensam frontalmente. Facilmente passam por arrogantes, cruéis, energúmenas, como se calar fosse o mais natural. (Claro que às vezes são, mas o ponto aqui não é esse...) Normalmente caio nesta faceta, falo e falta-me, confesso, senso para analisar o contexto, o público, reconheço que muitas vezes era preferível ter ficado calado, não pelo que disse, mas no contexto em que o disse ou com o tom com que disse. Mas o ponto é a necessidade de criticar ou estipular alguma coisa frontalmente.
Já disse o que não queria por pressão. Obrigaram-me a dizer o que não queria dizer naquela altura, com aquele auditório, mas tanto me obrigaram que... disse o que tinha a dizer e chateei-me com aqueles que me criticaram a falta de lisura. Porque tememos tanto a dissonância? Parece-me mais importante saber o que o outro realmente pensa.
Aqui há tempos ouvi alguém dizer que discutimos por não comunicarmos, tendemos a intuir, por vezes, erradamente, quantas discussões/preconceitos nascem por interpretações nossas? Talvez por ter achado interessante e viável o ponto admirei-me com a conclusão. Em vez de se realçar a comunicação como algo a praticar, a conclusão apontava para a não discussão, já que não sabemos tudo e podemos cometer erros de julgamento. Não é esse o objectivo da comunicação?

Abrir a boca é um desafio, as moscas podem sempre entrar, ou mesmo sair!
Parece que compreendemos quase unicamente o desacordo como sinal de má educação, parece-me mais saudável compreender onde e por que é que estamos em desacordo e avançar a partir daí.

Esta ideia levou-me para outra, admiro, cada vez mais, as pessoas que conseguem ouvir o que os outros dizem frontalmente e continuar a gostar/falar/dar-se com eles!

Comunicação tem muito que se lhe diga, as Técnicas de Comunicação começam já para a semana!!!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

De como so(u)mos

Facilmente os outros nos descobrem, intuem ou descrevem-nos como somos, em duas ou três palavras, acutilante sentido de observação, como se pudéssemos ser descritos a frio, como se fossemos sempre daquela forma.
Ultimamente tenho tentado mudar algumas das minhas formas de ser, não por ser do contra, que sou, mas por tentar, inultimente, por vezes, ser melhor do que sou. Confesso que muitas das palavras com que os outros me definem estão presentes em mim, direto, politicamente incorreto, sem papas na língua. Sou um pouco assim, ou muito, depende de a quem perguntarem.
Sinto que esta forma de ser me tem prejudicado, quer pela aparente impulsividade que a sinceridade traz acoplada, seja pelo medo dessa mesma sinceridade. Ignoram, espero eu, que o que digo é dito sinceramente, mas com amor, cuidado, a força das palavras toldam estes sentimentos e por vezes são razões suficientes para me calar, mas dificilmente me calo quando acho que tenho razão, no entanto vou aprendendo a fazê-lo. Há dois meses fui atingido por uma bomba não expectável, pelo menos no grau de destruição, recebi mensagens de carinho, de apoio, recebi mensagens coerentes e corretas, com ou sem carinho. Houve uma que me magoou, não pelo conteúdo, mas pela ausência aparente de compreensão e apoio, duas horas depois, recebi outra em tudo igual à anterior, mas com sincero amor. Fez toda a diferença.
Sinto que algumas pessoas evitam confessar-me algumas coisas, sei a razão, mas não a entendo, ou entendo que não me conhecem ou a forma como me tenho dado as tem afastado. O que fazer? Entre as muitas opções opto por nada fazer, sei que sou imperfeito, nos sentimentos, nas ações, nas palavras e tenho evitado convencê-las de algo contrário.
As ações e resoluções são para quem as pratica, estamos cá para quem quiser, entretanto vamos tentando mudar-nos, ainda que lentamente.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A preparação do estudo para Domingo correu bem, mas no final do dia recebi uma notícia que me obrigará não só a dar o estudo mas a viver o estudo.
Ainda que difícil, é uma lição.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

FCP e Vítor Pereira

As vitórias têm conseguido esconder um plantel mal escolhido, um treinador fraco e uma forma de jogar pouco concreta.
Sim, eu sei que o Porto é o campeão do poste e da barra. E então?
Como se explica um plantel somente com um avançado? Ainda para mais sem as características que devia ter. Vi os cinco jogos do campeonato, algo que não acontecia há alguns anos e adormeci em todos (isto não é uma imagem, é real)! O jogo do Porto é pouco concreto, é verdade que tem posse de bola, mas pouco faz com ela. Ainda ontem viam-se cruzamentos para terra de ninguém, não havia lá ninguém.
A culpa não será somente do treinador, o presidente também tem a sua parte, mas se o jogo preconiza um agente como o treinador, então ele deve estar lá para alguma coisa.
Sinceramente, não esperava que o Porto tivesse ganho os primeiros jogos, ainda que esperasse a forma como os ganhou, soporifamente.
Gostava, e custa-me dizê-lo, que o Benfica ganhasse de forma concreta e sem casos. Porquê? Para o Porto acordar, para o treinador agir de alguma forma.
Felizmente a NFL ainda vai no início...

Lars Kepler

Lars Kepler não é uma pessoa, são duas, Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril. Se querem mesmo saber a senhora é filha de uma portuguesa, ainda bem que escreveram esta série usando um pseudónimo, senão andaríamos à procura dos seus livros na secção de autores portugueses, como me aconteceu com o Daniel Silva.
Neste momento há dois romances editados em português, o primeiro é O Hipnotista, primeira obra em conjunto, o segundo é O Executor.
Para variar, comecei pelo segundo e gostei, mas depois li o primeiro e a verdade é que a estreia parece-me mais forte do que a continuação.

Em O Hipnotista somos confrontados com o assassínio brutal de uma família (pais e filha), o filho resistiu e está internado no Hospital, tornando-se a única testemunha do crime.
Joona Linna, o herói da série, polícia da Judiciária, responsável pelo caso, pede ajuda a Erik Maria Bark, médico e antigo hipnotista, que jurou publicamente nunca mais praticar a hipnose. Convencido por Joona, Erik quebra a promessa e daqui para a frente tudo parece correr mal, o seu filho é raptado e Erik vai ter de confrontar-se com o seu passado.

O romance de estréia é uma tour de force, com 560 páginas, num estilo pormenorizado e detalhado, com alguns flashbacks que poderão não agradar a todos, eu delirei. Trata-se de uma história negra, cruel, que não nos deixa respirar (alguns respirarão nos flashbacks, mas é tudo uma questão de estilo e gosto). Quando terminei O Executor, refilei com as comparações a Stieg Larson, comparações que compreendo depois de ter terminado o primeiro livro.
Joona Linna é mais um polícia marcante dos policiais nórdicos, inteligente como todos (wallander, Winter, Hole), persistente (como os anteriores), perspicaz, um pouco cagão, com problemas nas afeições pessoais (confere), mas, ainda assim, mais comedido nas suas desgraças (é difícil descer mais baixo do que Harry Hole).
A força de o Hipnotista é a descrição pormenorizada dos estados de alma das personagens, ora quando se fala de um livro que descreve um grupo de pessoas com problemas psicológicos, essa força é digna de realce.

O segundo romance de Lars Kepler, O Executor, é ligeiramente menos negro, penso que mais por defeito do que por vontade. Se calhar esta minha opinião parte do maior interesse que o primeiro livro me despertou, já que pensando retrospetivamente o livro é negro, cruel, mas se calhar é menos violento para o leitor do que o segundo, é mais cinematográfico, mais visual, enquanto o primeiro me surpreendeu mais  psicologicamente.
Avancemos, o enredo de O Executor começa com o aparecimento de uma mulher morta num barco no  arquipélago de Estocolmo. No dia seguinte, Carl Palmcrona, director-geral de Armamento e Infraestruturas de Defesa da Suécia, é encontrado enforcado em casa. Joona Linna desconfia da hipótese suicídio e recusa-se a dar o caso como encerrado.
Pouco a pouco, Linna e o leitor começam a perceber de que modo estas duas mortes estão ligadas.
O Executor insere-se, mais facilmente, no chamado Policial Nórdico pela sua trama, as questões da guerra em África, o tráfico de armas e a violência de estrangeiros em solo sueco, tão caras a Mankell, estão presentes aqui.
Confesso que gostei muito do que li,  (acabo de saber que se trata de uma série de 8 volumes, aqui), mas desgostei um pouco da opção final de trazer spoilers, mais pelo spoiler em si, que me parece demasiado telenovelesco.
Leim e digam de vossa justiça.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

do dia a dia

No trabalho aparecem pedidos e questões a serem respondidas, no Doutoramento o prazo de entrega da Projeto avizinha-se mais rápido do que o esperado (quanto tempo o tempo tem? Haverá algo mais variável, menos concreto que o tempo?), amanhã há um casamento, para a semana um aniversário de uma associação a que comparecerei em trabalho, falta-me Setúbal, uma reunião de boas vindas e a preparação de uma cadeira nova.
Desafios novos a cada dia, as férias foram quando? Logo agora que o verão chega e nos assa no gabinete.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

da vida passada na escola

Tenho-me lembrado, nos últimos tempos, da experiência pela escola preparatória e secundária. Como as crianças podem ser cruéis, senti-o na pele, algumas vezes fiz sentir a crueldade em pele alheia.
Lembro-me de ter sofrido as passinhas do Algarve no 6º ano. Havia um colega mais velho, mais alto, mais forte, mais líder, mais cruel que gostava de mostrar quem mandava. Muitos sofreram com ele. Cada dia um, para combater a monotonia. Não posso generalizar, reagi da maneira que reagi, diferente ou semelhante do modo como outros reagiram. Lembro-me das brincadeiras mais estúpidas e humilhantes. Corredores da morte cruéis e violentos. Brincadeiras sádicas com o poste. Às vezes penso se não existiriam professores e funcionários naquela escola.
O ano foi longo e duro, algumas amizades cristalizaram-se, na escola, a caminho ou regresso dela. Há alguns com quem ainda falo hoje em dia, de tempos a tempos, nem que seja via facebook.
Lembro-me de passar para o secundário. Já não sofria tanto, somente uma tentativa de furto aqui e ali, um achincalhamento mais ou menos público, quem andou nas Cavaquinhas na mesma altura em que eu andei saberá do que falo. Lembro-me de um jornal da escola que trazia uma notícia, uma percentagem alta de alunos era assaltada todos os dias, nomeadamente os abaixo do 10º ano.  Era considerada a pior escola do concelho, haveria razões para isso. Mas as coisas mudam e quando saí de lá, deixei uma escola diferente daquela que encontrara. Hoje é uma das escolas "finas" do concelho.
As crianças, os jovens podem ser cruéis. Na tentativa de marcar a sua posição, de mostrar quem e como são foram-no/terei sido algumas vezes. Mas crescemos, aprendemos com os erros, com o que de mal fazemos e cometemos aos outros. Alguns, pelo menos, outros devem ter enveredado por caminhos menos legais.
De vez em quando lembro-me nostalgicamente e com um sorriso de alguns acontecimentos, pequenos, parvos, delirantes, "saborosos".
De uma vez quase pegámos fogo à escola, sem querer, claro. Doutra, colocámos uma árvore dentro de uma sala. No Carnaval rebentámos um número estúpido de bombinhas de mau cheiro numa sala, para ver se saíamos mais cedo. Azar! A Professora deu-nos aula de porta fechada.
Lembro-me de um colega abrir o guarda-chuva numa aula, estávamos na primeira fila e a professora afogava os nossos cadernos com perdigotos. Lembro-me de ter sido mandado para a rua injustamente, antes de fazer 20 metros tinha 7 ou 8 colegas atrás de mim, por amizade (e desinteresse da aula, claro, mas o ponto não é esse).
Lembro-me dos intervalos. Das amizades confirmadas nos intervalos.
Fomos o que fomos, somos o que somos em conformidade com as experiências passadas. Ao ouvir notícias mais ou menos recorrentes de agressões, faltas de respeito pergunto-me se o mundo mudou assim tanto.
Se algumas das turmas que na altura eram vistas como terríveis hoje seriam assim assim.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Rua da Amargura

Andamos por aqui e por ali,
sem saber bem porquê.
Somos levados pela melancolia,
pelo desespero,
toldados pela tristeza.
Encontraste-me ali,
quieto e só,
parado e cinzento.
Talvez tenhas pulado, falado muito,
talvez,
talvez tenhas dançado, gritado,
talvez,
mas foi o teu sorriso que me fez sair
da rua da amargura.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Até que a morte nos separe

"Até que a morte nos separe." Lembra-se de olhar para Carla, de sorriso aberto, vestida de branco e dizer esta frase (batida).
"Até que a morte nos separe", namoraram durante cinco anos, casaram quando ela engravidou. Teria sido uma menina, mas uma complicação no quinto mês de gravidez levou ao aborto. Terá sido esse acontecimento a abortar também o casamento, o amor deles? Não sabe afirmar com certeza. A verdade é que o sexo se tornou mais ocasional, o prazer transformou-se em enfado e, pouco a pouco, o ressentimento passou a ocupar o lugar do amor que cada um sentia um pelo outro.
Não sabe explicar porque é que continuam juntos. Já nada os aproxima, falam pouco um com o outro. Vivem juntos, mas na realidade longe um do outro.
Quando descobriu que Carla o traía com um colega do trabalho não estranhou, ainda que a descoberta o tenha magoado. "Não foi com isto que sonhei." Como é que passamos dos sonhos à triste realidade? "Porque não nos divorciamos?" Durante as primeiras semanas, após a descoberta do caso, esperou que ela lhe pedisse o divórcio, que lhe dissesse que tudo tinha terminado, que encontrara outra pessoa. Esperou... Ainda que nada a prendesse a ele, ainda que o traísse, ela nada disse, ele esperou, sem nada dizer, também.
Enfureceu-se, quando percebeu que alguns amigos sabiam do caso. Pensou em confrontá-la. Três meses depois da descoberta, começou a fazer planos para que a morte realmente os separasse. Passou algumas horas na internet, pesquisou casos reais, tentando perceber o que correra mal em alguns crimes que terminaram com a prisão do marido assassino.
Elaborou um plano.
Um dia confrontou a mulher com o arrefecimento do casamento, chorou, "foi com isto que sonhaste"? Pediu-lhe uma segunda chance, não mereceriam uma segunda hipótese? Queria ser feliz com ela.
Marcaram três dias de férias, mais o fim-de-semana, cinco dias só para eles. Escolheram uma ilha, no meio do Atlântico, longe de conhecidos, uma outra língua, preços especiais de época baixa, clima temperado.
A escolha, que partira dele, era um sonho antigo dela. Ele já estudara percursos, caminhos, locais a conhecer, perigos possíveis. A ilha era conhecida pela sua beleza natural, mas ao longo dos últimos anos alguns turistas mais afoitos tinham conhecido a morte. Planeara três ou quatro hipóteses de a matar. Era uma questão de tempo.
Chegaram ao aeroporto pelas 11h. Ao meio-dia entravam no Hotel, só teriam carro no dia seguinte.
Carla parecia querer dar uma oportunidade ao casamento, nos dias que antecederam a viagem, passaram algum tempo falando do aborto, nunca tinham falado muito sobre o assunto, de como ela se afastara, dos porquês, de como podiam tentar recomeçar.
No quarto de hotel, arrumaram a roupa. Ele deitou-se na cama, esperando que ela acabasse de se arranjar para saírem. Ela saíu da casa de banho, com um conjunto de lingerie novo. Fizeram amor. Tomaram banho juntos e voltaram para a cama. Jantaram no quarto. Depois, ela contou-lhe, a medo, do caso com o colega de trabalho. Fê-lo com sinceridade, mostrou-se arrependida e disse-lhe que fora a conversa que tinham tido e a posterior decisão conjunta de lutar pelo casamento que a tinham feito mudado de ideias. Sem essa conversa, teria saído de casa na semana seguinte.
Ele ficou ali, embasbacado, não com as novidades, mas com o volte-face. Ela parecia genuinamente incomodada com a sua atitude, reconheceu, pela primeira vez em meses, a mulher por que se apaixonara e com que casara.
Disse-lhe que a perdoava, escondeu-lhe que sabia, e prometeu-lhe que juntos dariam a volta por cima.
No dia seguinte, passearam pela ilha, ele ia pensando no planeado, envergonhado, mas indeciso.
O terceiro dia acordou enevoado, fizeram um pequeno passeio de barco, até umas ilhotas ao largo da ilha mãe.
O cansaço físico não os impedia de voltar a encontrar-se, à noite, nos braços um do outro. Era a lua de mel que nunca tinham tido.
No quarto dia, foram até à montanha mais alta da ilha. A estrada era íngreme, a vista deslumbrante. Quando chegaram ao cume, o nevoeiro impedia-os de ver o que estava abaixo, chovia e não se via vivalma. Eram oito da manhã, tinham saído cedíssimo do hotel, num dos miradouros, João pensou no planeado, era um local perfeito, que colocara de parte pela presença habitual de turistas e vendedores. Ela estava em cima do muro, ele chegou-se por trás e colocou os braços à sua cintura. "Cuidado, não caias."
Desceram a montanha, visitaram duas ou três terreolas, no vale, e partiram em direcção a uma praias desertas, promessa do gerente do hotel.
A praia era lindíssima, o tempo melhorara e ele aventurou-se na água. Passaram o resto da tarde ali. Lancharam perto da praia.
No caminho para o hotel, ela pediu-lhe para pararem junto à estrada. Anoitecia, o sol punha-se lentamente, lá ao fundo, no mar alto.
Sentaram-se, com cuidado, na parede que limitava a estrada da escarpa. Abaixo deles, uma vertigem escarpada. Olharam juntos o anoitecer, ele apertava-a, beijou-lhe a testa.
"Voltamos?", perguntou-lhe já quase na penumbra. Andando já na direcção do carro, ela dera por falta da mala, colocara-a do outro lado do muro, encostada a este. Voltaram, ele apanhou a mala e colocou-se em cima do muro, de costas para ela, "não se vê nada".

Os últimos dias tinham sido difíceis para ela. Voltara a sentir prazer em estar com o marido. Ainda o amava? Começava a acreditar novamente que sim. Aceitara a viagem como uma dupla oportunidade, poderiam tentar reatar o casamento, algo em que não tinha muita esperança, mas planeara a sua morte. Contara-lhe do seu caso, esperando fúria, dor, algum tipo de reacção, não antecipara o perdão. Pouco a pouco, fora-se habituando à ideia de continuarem juntos. Mas, no seu inconsciente tinha medo, de voltar tudo à normalidade abjecta do passado recente. Tinha medo dos silêncios que habitaram a sua casa durante quase todo o seu casamento, tinha medo de que esta promessa fosse outra vez ultrapassada. A felicidade entre eles tinha sido uma promessa vã.
"não se vê nada"
Ela via, mas era como se não visse. O futuro era uma bifurcação e ela temia que as escolhas fossem novamente as erradas. Num ataque de fúria, empurrou-o, escarpa abaixo.

SuperGods de Grant Morrison


Supergods de Grant Morrison (o título completo é Supergods. What Masked Vigilantes, Miraculous Mutants, and a Sun God from Samallville can Teach Us about Being Human) é um livro sobre comics. Confesso que não era o que eu estava à espera.
Os primeiros capítulos descrevem a criação e interpretação das Golden, Silver e Dark Ages. O que Morrison relata não é tanto a história da Indústria, embora ela esteja lá, mas a evolução dos Super-Heróis ao longo das décadas, as diversas relações entre os comic books e a cultura/política da época e a interpretação diversa dos autores de BD desses mesmos Super-Heróis.

O problema, para mim, do livro é que é um misto, por um lado uma análise do nascimento e evolução dos comic books, nomeadamente dos Super Heroes Comic books, por outro lado uma autobiografia de Morrison.

No que à análise diz respeito, Morrison, ainda que descrevendo sumariamente os autores e a indústria, enfatiza as criações, olhando-as como super deuses modernos, velhos deuses em 2D, novas roupagens para velhos mitos. O que torna interessante a leitura é a ligação que Morrison faz entre a sociedade e os comics (ia escrever livros de Banda Desenhada, mas o foco de Morrison são os Comic Books da Marvel e DC, depois da Image, ou seja, os comics Americanos, mas também os ingleses. Os franceses, por exemplo, ficam de fora neste estudo.), a constatação de que os heróis mudam consoante o espírito da época, a década de quarenta com a segunda Guerra Mundial; a década de 50 com o início da Guerra Fria, o medo da Bomba; a década de 60 com a Guerra do Vietname, o psicadelismo e as drogas, com o “boom” do feminismo alteram o carácter dos heróis, mais concretamente o espírito e contexto das histórias. Morrison compara os X-Men da década de 60, aquando da sua criação, com os afro-americanos, a segregação, o ódio racial.

A reutilização e reinterpretação dos heróis é o foco das três primeiras partes do livro e é isso que o torna interessante, a análise dos diferentes estilos, a evolução do médium, as guerras de copyrights (Marvelman continua num limbo até hoje) são alguns dos tópicos.

A partir da 3ª parte, a autobiografia toma conta do discurso, pessoalmente, e por muito que goste de algumas obras de Morrison, a análise do poder e importância das drogas, bem como experiências místicas, na sua obra foi demasiado. Pensei que estava a ler um volume evangelístico e psicadélico dos anos 60. Claro que estas experiências são importantes para se perceber tudo, ou quase tudo, aquilo que Morrison escreveu (com ênfase para Animal Man, Doom Patrol, The Invisibles e outros tantos). Mas, e ainda me faltam 6 ou 7 capítulos para acabar de ler o livro, poucas respostas concretas há para o subtítulo da obra, a pergunta indirecta consegue respostas indirectas, por enquanto, mas mais do que SuperGods, parece-me que estamos mais na presença de um demiurgo, o que não sendo algo mau à partida, poderia ter sido atenuado por uma alteração de título. Mas como disse, ainda me faltam alguns capítulos para terminar o livro.

Antes de terminar, duas notas.

1) Essencialmente, os SuperGods analisados são os das duas grandes editoras, a Marvel e a DC, ainda que com maior preponderância para a DC, aqui não será de estranhar o contrato de exclusividade de Morrison com a Editora da Warner;

2) Se é verdade que os capítulos estão ordenados cronologicamente, não é menos verdade que quando Morrison avalia as duas editoras a cronologia avança e recua, o que somando às experiências pessoais do escocês aumenta um pouco o caos temporal. Conhecendo Morrison, o problema até lhe deve agradar!

Pessoalmente, o livro é menos profundo do que estava à espera, se é verdade que o título deixaria de fora uma análise à estrutura da indústria e aos problemas de copyright (que na verdade aborda), por enquanto esta análise sociológica dos super-heróis parece-me curta. Será tolice pensar que um romance como The amazing Adventures of Kavalier & Clay de Michael Chabon dá muito mais informações sobre a indústria e criações da BD nas décadas de 30-50 do que este livro?
De qualquer modo, parece-me um livro interessante para todos os que querem perceber melhor este medium, especialmente aqueles que gostarem de trips:P

"Ojos de Agua" de Domingo Villar

"Ojos de agua", primeira obra do galego Domingo Villar, é um pequeno romance policial (153 páginas) que nos introduz uma dupla de investigadores, o Inspector Leo Caldas e o seu colega Rafael Estevez, dupla que regressa no seu segundo romance, "La playa de los ahogados".
O Inspector Caldas e Estevez investigam a morte de um músico de jazz, numa torre de apartamentos, na ilha de Toralla, Canido (Vigo), uma morte com requintes de malvadez, que me inibo de descrever.
Caldas insere-se na tradição de inspectores e detectives para quem a comida e a reflexão são parte indelével da caracterização, percebe-se que Villar leu Camilleri e Vazqués Montalban.
Uma das primeiras coisas que salta à vista é a opção pela ausência de títulos nos capítulos, Villar opta por uma entrada de dicionário em cada um dos capítulos, uma palavra com os seus diversos sentidos, que serve de tema para o capítulo em causa.
Sendo um primeiro romance, curto ainda por cima, Ojos de Agua é, antes de mais, uma apresentação da dupla de agentes e da Galiza, região onde a acção se desenrola.
Caldas fala pouco, é o cérebro da dupla, o seu nome é conhecido por toda a região, fruto da participação num programa radiofónico, "Patrullando en las ondas". Estevez é o oposto de Caldas, aragonês, enviado para a Galiza de Saragoça, mostra-se incapaz de perceber ou aturar a forma de ser galega. Estevez funciona como comic relief do romance, já que, por ferver em pouca água, acaba por gritar com as suas testemunhas, quer sejam jovens ou adoráveis anciãs, com empregados de balcão e com quem mais apareça à sua frente. Imaginem como reagirá quando a investigação o levar (a ele, homofóbico) a um bar gay!
Paradoxalmente, Ojos de Agua preocupa-se mais na descoberta de um enigma (Quem matou o saxofonista) do que na definição dos personagens, na descrição do mal (como, por exemplo, Mankell, que nos coloca dentro da mente do assassino) ou da acção pela acção. Ao terminar o romance, fica-se com uma pálida noção de quem são estes dois personagens. Sabemos que Estevez tem quase dois metros e cerca de 130 quilos, de Caldas, sabemos que é calmo, que gosta de comer e que é assombrado pela memória de Alba, antiga, muito recente?, paixão.
Ainda assim, a curta duração do romance serve para descrever o espírito, os hábitos, a geografia e a culinária galegas.
Concluindo, Ojos de agua satisfaz, pelo estilo e pelo final convincente, mas abre o apetite para futuras continuações.


La playa de los ahogados já está na estante

quarta-feira, 13 de julho de 2011

The Killing - "Quem matou Nanna Birk Larson?"

Começámos ontem a ver a série dinamarquesa, The Killing, uma série policial de que tenho lido maravilhas.
Depois de me ter "convertido" aos policiais nórdicos em papel, Mankell foi o primeiro a desbravar caminho, mas Hakan Nesser, Stieg Larsson, Jo Nesbo, Ake Edwardson e Karen Alvtegen fazem parte do meu lote de favoritos, sem, no entanto, esquecer Camilla Lackberg, Asa Larsson, Arnaldur Indridason, Anne Holt e Yrsa Siggurdardottir (num patamar menos elevado, para mim, claro!); e de me ter satisfeito a série de Wallander produzida pela Yellow Birds, mais uma ou outra que vi produzida pela produtora sueca, aproveitei ontem no AXN para ver a antestreia da tão badalada série dinamarquesa, The Killing, que já deu origem a um remake americano (duh! os americanos são demasiado provincianos para verem filmes estrangeiros, preferem fazer e ver os remakes, normalmente inferiores aos originais), que teve excelentes críticas, apesar do final ter sido bastante criticado.

Pelo primeiro episódio parece que The Killing segue os passos de Wallander da Yellow Bird, há criminosos, vítimas, mas os relacionamentos tomam parte do tempo da acção, a primeira série é composta por 24 episódios, sendo que cada episódio ocupa um dia.

O primeiro episódio começa com a investigação ao desaparecimento de uma jovem de 19 anos, Nanna Birk Larsen, a detective Sarah Lund, prestes a mudar-se para a Suécia com o noivo e filho, toma a dianteira na investigação.
O episódio é suficientemente lento para nos dar toda a informação acerca do background de Sarah, ao mesmo tempo que somos apresentados à família da jovem desaparecida.  Simultaneamente, conhecemos Troels Hartmann, candidato a Presidente da Câmara de Copenhaga, que pensa que tem a eleição ganha, mas aparentemente há mais do que parece à primeira vista. O final do primeiro episódio indica-nos que haverá ligações entre a sua equipa, não o colocando de parte, e o assassínio da jovem.

O primeiro episódio, pelo que li, toda a série, aposta num andamento lento, dando mais importância às personagens e relacionamentos, ainda que a acção não tenha sido descurada. Obviamente que se trata de um primeiro episódio, provavelmente o episódio mais ingrato de uma série de tv, já que tem de apresentar as personagens, a acção principal, o contexto, etc. Muitas das séries que vejo ainda andam à procura da melhor estrutura no piloto, the Killing parece ter essa estrutura organizada.
Ao contrário das séries americanas, os actores são mais do que modelos, parecem pessoas normais, comuns, mas convincentes. Ao contrário da série Wallander, a Dinamarca é somente o local, ainda não há, para já, pelo menos, uma apresentação da cultura, dos hábitos, temos a paisagem e a cidade de Copenhaga.
O primeiro episódio fica marcado pela fotografia cinzenta e pela brutalidade da morte, a reacção dos pais à morte da filha abre caminho a um papel preponderante da família no resto da série.
Quero mais...



terça-feira, 21 de junho de 2011

AVB

E de repente um terramoto, que sinceramente não esperava, Villas Boas sai já, já saiu, do meu FCP.

Fui daqueles que demorou tempo a acreditar no que Villas Boas podia fazer, quando foi anunciado encarei a decisão com algum pasmo, mas depois do Jesualdo aceitava tudo. Acima de tudo foi competente.
AVB mudou o futebol do FCP, tornou-o mais ofensivo, bem mais vistoso e aprazível quando comparado com o futebol praticado no ciclo de Jesualdo, aproveitou alguns jogadores (Guarin, por exemplo, Beluschi) e teve o condão de unir a equipa. Sempre duvidei da saída de AVB, pelo discurso, aliás, pelos discursos, o dele e do Presidente, pela sua história no FCP, pela próxima época. Mas está consumado.

Não me parece que se possa falar de um ciclo de Villas Boas, afinal foi só um ano, mas foi um ano marcante. À empatia com a equipa seguiu-se a empatia com os adeptos, Villas Boas foi a imagem de um treinador portista, como não tínhamos há muito,que muitas das vezes se deixou levar (iniciou, a bem da verdade) em picardias linguísticas. O nosso futebol é, infelizmente, mais fruto das picardias de café do que da qualidade do futebol praticado, AVB com os resultados e uma prosa perto da de Pinto da Costa venceu, também aqui, o campeonato.
Claro que depois de todas as juras e promessas, sair desta maneira custará algo à sua imagem, já começam as piadas com a cadeira de sonho (record, de hoje). Mas custará mais a Pinto da Costa que acaba por ter mais um "Mourinho" nas mãos, um treinador com categoria, que cedo se percebe que dará o salto, e perante os milhões oferecidos Pinto da Costa nada pode fazer. Pinto da Costa pensava que este se mantinha enquanto ele quisesse. Enganou-se. Ter-se-á enganado por causa do discurso de Villas Boas, que queria treinar equipas pequenas, que não quer(ia) andar muito tempo na cadeira de treinador, que é portista desde pequeno.

"Enfim, é a economia, estúpido."

Sejamos francos, somos pequenos, enquanto país, enquanto futebol, enquanto economia, somos pequenos. Percebo a estupidez de negar um contrato como aparentemente é o que Abramovich lhe ofereceu, mas pode-se ter um pouco mais de tino na língua, assim morre-se pela boca e dá-se outra imagem.
André Villas Boas tem evitado as comparações com Mourinho (pessoalmente prefiro o estilo de futebol do Porto de Villas Boas ao estilo de futebol do Porto de Mourinho, menos defensivo, menos cínico, mais directo), mas AVB marcha para o Chelsea, como Mourinho (na atitude Mourinho foi mais directo, queria sair e saiu, nunca disse que ficava, AVB não), assim que lhe deram um contrato de uma vida e as condições financeiras para levar a bom porto o projecto saiu, obviamente. AVB segue os passos de Mourinho, com somente um ano de Porto, o que pode ser pouco. O Chelsea é uma máquina de triturar treinadores, é um risco, ainda que financeiramente seja uma oportunidade.

Timing

A saída de AVB pode revelar-se desastrosa para a equipa, para além de um amigo, como algumas notícias o descrevem na óptica do balneário, sai um treinador que teria algumas coisas planificadas, e faltam dez dias para a época começar.
A avaliar pelas notícias Pinto da Costa convenceu Vitor Pereira a ficar, mas dificilmente ficará como treinador principal (a época no Santa Clara convida a ter calmas, ainda que AVB também tenha tido dificuldades na Académica. são casos distintos, mas...). A verdade é que Pinto da Costa já não acerta sempre, Del Neri, Adriaanse, Couceiro, Fernandez, coloco aqui Jesualdo, foram escolhas mais ou menos falhadas, mais na realidade.

A rescisão por fax mostrará algum desconforto em estar cara-a-cara com Pinto da Costa. Aceita-se e se calhar é preferível assim, na mente dos adeptos portistas AVB torna-se o Moutinho do Dragão, aparecer em pessoa é desafiar os adeptos nortenhos.

Conclusões

O Porto é o único clube português que ganha dinheiro com os treinadores, 15 milhões com AVB, 7 milhões e tal com o Special One. Pode significar pouco quando avaliado desportivamente, mas vale o que vale.

AVB quererá levar alguns jogadores e dificilmente Pinto da Costa os venderá abaixo do preço de rescisão. Falcão parece-me barato, Moutinho deverá, como sempre ambicionou, sair de Portugal (somente para comentar os dois nomes mais falados. Por mim, podia levar Guarin também). Acho que Pinto da Costa devia apostar na venda dos jogadores vendáveis. Em teoria, duvido que a equipa valoriza tanto quanto se esperava.

O treinador estará na mente do presidente. Vitor Pereira não vai com AVB para continuar a ser o nº 2? Espero que Queiroz esteja fora das cogitações, Jesualdo idem idem aspas aspas. Via com bons olhos o regresso de Jorge Costa, o homem, mas enquanto treinador deixa-me ainda algumas dúvidas. Daqui a uns dias saber-se-á.

A saída de AVB faz mais pela moral dos adeptos do Sporting e do Benfica (pelo que tenho ouvido e pelas bocas que me são dirigidas, mais pelos benfiquistas) do que qualquer aquisição ou estratégia desportiva. Já sonham...e penso que com alguma razão.

Os próximos dias vão continuar a ser pródigos em notícias e nunca como agora o Porto ajuda a vender jornais.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Monólogo

-Olá!
-...
-Sinto-me velho, hoje. Quase tão velho como tu, sem paciência, descarnado, sem pele.
- Deves estar velho mesmo. Descarnado? Com tantas peles penduradas?
-Sim, eu sei. Gordo, irascível. E velho, um velho de 48 anos. Com um filho que não conhece, que não percebe, que não vê. Um filho ausente, mesmo quando não sai de casa.
- E uma mulher que cada vez mais se afasta, foge, se esconde de ti.
-Tinha medo de o pegar, quando nasceu. Sabes? Parecia demasiado frágil, para um tipo sem jeito como eu. Para um tipo que partia copos todos os dias, copo, que partia um copo todos os dias. E olhar para ela, uma estrela naquele quarto. Sorrindo, cansada e dorida. Também de mim. Como se aquele raio que saíra dela podesse fazer-me brilhar. Chamuscou-me.
-Não sei se tem medo de ti, mas...qualquer dia não a encontras. Abafa-la demasiado.
- Como me hei-de dar com os outros, mesmo os do meu sangue, se não me percebo a mim mesmo? Se não aceito quem sou. Se não gosto de mim...mesmo quando os outros gostam.
-Ela sabe que não sabes se gostas dela. Pelo menos, na maior parte das vezes.
- Ironia. Porra de realidade. Sentir o amor dos outros, o carinho e não saber retribuir. Evitar olhar nos olhos, ou olhando não saber sorrir, não me interessar pelo que dizem. Fartar-me do som das vozes deles, e ansiar pelo som da minha não voz, dos meus não pensamentos. Sorrir por não reagir. Ou reagir não agindo.
- ...
-Não dizes nada? Ou respondes afirmativamente, com o silêncio? Juntando-te a mim na minha opinião?
- Não consigo pensar contigo a falar. Não te calas. Aliás, é esse o teu problema. Falas sempre, mesmo quando não te ouvimos. Mesmo quando não pensas. As mãos não param, a respiração aumenta, o pé bate no chão, para cima e para baixo.
-Vejo um jovem de vinte anos, que mora na mesma casa que eu. Não gostava de o pegar em pequeno. Não tinha paciência para ele, para as perguntas, para os porquês, demasiado agarrado ao trabalho, ao desejo de ser melhor, aos jornais, à realidade. E ele perguntando, porquê, pai? Porquê?
Andando, correndo, tirando as coisas do lugar. Vendo tudo com as mãos, e por vezes com a boca. Porquê, Pai? Lambendo, roendo e mordendo. Porquê?
-E ela, ali, a olhar para os dois. Sorrindo tristemente para ti, tentando compreender o que nem tu sabes explicar. Esperando que entendesses o filho que te deu.
- Mordendo uma caneta, ficando com a boca cheia de tinta. Cuspindo para o monitor. Metendo os dedos na boca e sujando a parede. Porquê, filho?
-Triste, quando o agarravas por uma orelha. Ou quando lhe davas uma ou duas palmadas, a chamavas, e colocando-o fora do escritório, fechavas a porta. Entre ti e eles.
- Que saudades desses momentos.
- Imaginas as lágrimas de um e de outro?
- E aqui estou eu, num quarto de hospital.
- E eles vêem visitar-te?
-...

O Alçapão

O Alçapão, de João Leal, foi descrito pela Time Out como um "ovni na ficção portuguesa".

Talvez seja, ainda que me pareça objeto de estudo um país que teve duas coleções  de bolso, uma de policiais e outra de ficção científica, com sucesso, não ter nenhuma tradição grande e objectiva nestes dois tipos de literatura. Há alguns escritores que têm agraciado os géneros, mas olha-se, principalmente, para a FC com alguma desconfiança.
O livro de João Leal junta o policial com a fantasia, na realidade são duas histórias que no fim se entrecruzam.

Deixem-me começar pela capa e pelas minhas idiossincracias.
Quando vi a capa pela primeira vez foi impossível não pensar em CS Lewis e na primeira crónica de Nárnia, com o inverno a assolar Nárnia (imagem da ausência da Aslan, figura divina na série de Lewis).
O livro de Leal trata de dois invernos. No primeiro somos apresentados a dois jovens que crescem num lar católico, onde a lei do mais forte impera, vemos a violência com que as crianças e os jovens têm de lidar diariamente e a negligência e desinteresse dos padres. A determinada altura, depois da descrição sociológica e violenta, começam os crimes, ainda que já haja corpos, recentes e antigos, nas páginas anteriores. Os crimes têm algo de paranormal, ainda que o paranormal em Leal esteja ligado ao Cristianismo, há anjos, há demónios, há possessões, tudo em dose generosa, mas comedida. Aliás, a capa tem uma asa ilustrada, que nos avisa para a presença de seres angelicais.
O segundo inverno leva-nos para os textos de Génesis inscritos na epígrafe. Ali conhecemos o dia a dia dos habitantes de uma ilha, sobreviventes do dilúvio, que se têm como os únicos habitantes do mundo. De alguma forma a história irá desembocar na narrativa bíblica sobre a Torre de Babel.

Anjos têm povoado a literatura, nomeadamente actualmente, assim de repente lembro-me de Angeology, que deixei a meio, e de um romance recente de Anne Rice, que ainda não comecei. Os anjos de Leal são mais arraigados à tradição cristã, como todo o livro, aliás. Deus paira ali, mas é pouco mais do que uma certeza, nunca uma personagem, sempre algo tido como certo, que age sem que o consigamos ver ou discernir.
Gostei da escrita de João Leal ainda que me pareça incoerente, há passagens muito cuidadas e outras que não fazem todo o sentido, há passagens demasiado rápidas que me deixaram confuso. O final do livro é demasiado rápido e o final da 2ª narrativa depende demasiado de deus ex machina, fez-me confusão e não me agradou completamente. Surpreendentemente, agradou-me mais o estilo da 2ª parte do que da 1ª, ainda que os problemas assinalados acima ainda sejam recorrentes.

(Para quem conheça um pouco o João Leal, e eu não o conheço, cruzei-me com ele duas ou três vezes, há nomes que se reconhecem, amigos que são "homenageados" enquanto personagens, locais que vêm à memória, como Água de Madeiros. Há outros motifs na obra que me fizeram lembrar outras obras, lembrei-me de The Shack, ainda que não no mesmo estilo; a ilha fez-me relembrar Lost, a série de TV, principalmente numa passagem no alto da árvore mais alta da ilha, mas as impressões ficam por aqui.)

Não me parece que O Alçapão seja tanto um ovni quanto a aposta da Quetzal nele, essa sim parece-me o ponto distintivo neste livro. O defeito pode ser meu, mas não me surpreendeu tanto quanto alguns comentários pré-publicação me tinham feito pensar. É um livro interessante, mas que fica aquém desse elan criado.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sentada, descansando as pernas e a alma, se é que é possível descansá-las, pensava na morte, próxima, tão próxima que lhe sentia o cheiro. Acordou com os gritos.
A sala onde estava fechada era escura, mas iluminada por frechas no telhado, não sabia se era o sol que se descobria ou se era a noite que chegava. Tinham-na deixada inconsciente, fora apanhada por um grupo de populares, que a pontapeara. Por isso afagava as pernas, ainda que todo o corpo estivesse cheio de hematomas, a pele branca era agora arroxeada, como que por milagre a cara não tinha sido atingida, por milagre pensava ela, afinal tinha sido propositado. A morte de alguém é sempre um marco, mas matar uma bruxa tem mais sentido quando se reconhece quem se queima na fogueira. Era esse o modus operandi do vigário, "apanhem-nas, amoleçam-nas, mas não as desfigurem. Todos devem reconhecer o aspecto de uma bruxa".
Afinal o cheiro que sentia era o da lenha, pronta para a queimar e provavelmente a outras.
Chegara à aldeia há 10 anos, fugida da guerra que lhe matara a família. Fora assim que explicara a sua chegada, agora, ali, na penumbra, pensa que não é a guerra que mata ninguém, somos nós, homens e mulheres, toldados pelo medo, pelo ódio, pela violência.
Tendemos a chamar nomes ao que não conhecemos, aprendera desde miúda a arte do herbarium, com a avó velha. Fugida da guerra, atravessou montanhas e rios e teve de aprender uma nova língua. Começou a trabalhar no campo, o suficiente para lhe dar o pouco que precisava, pouco a pouco foi fazendo amigos.
Não é normal uma mulher da sua idade só. Não é normal uma mulher da sua idade tão bela, ainda para mais trabalhando de sol a sol entregue aos caprichos da natureza. Não é normal uma mulher saber tanto de plantas e ervas. É?
Nada disto por si lhe ditaria a sorte funesta. Há dois anos chegou o vigário, homem seco, tanto de carnes como de feitio. Ela reconheceu-o, mas guardou-o para si.  Estava na igreja na primeira missa, a face dele era-lhe familiar, mas não conseguia perceber de onde. Ele lia I Coríntios 13 e quando gritou "Sem amor" ela empalideceu. Há onze anos ouvira aquela mesma voz, comandando um grupo de homens, mandando que estes exterminassem crianças e velhas. Saíu à pressa, sob o olhar de todos.
Naquela noite não dormiu, via a cara da mãe e dos irmãos, do pai já não se lembrava. "Será que o padre se lembra de mim?"
No início pensou que não, que estava incógnita. Talvez o estivesse, talvez o padre tenha perguntado por ela, talvez tivesse sabido de onde ela viera, alguém poderia ter contado o que ela contara quando chegou à aldeia. Deixou de ir à igreja, temerosa, temendo o homem não o Senhor.
Há poucos meses a caça às bruxas tinha começado, pensou em ir-se embora, mas poucas vezes se cruzara com o diácono e nas poucas vezes em que acontecera ele tinha sido simpático, nada lhe indicava que ele sabia quem ela era. Fugir, outra vez? Para onde?
Da rua chegam-lhe gritos, urros, o murmurar de uma multidão. A porta abre-se, reconhece o homem que a agarra com maus modos, ódio e talvez temor.
"Jan, não. Porquê?"
Ele agarra-lhe nos cabelos, puxa-os, quase que a vira ao contrário e puxa-a pela porta. Consegue perceber, entredentes, a palavra bruxa.
Esperneia, grita por misericórdia, mas é levada, com a ajuda de mais dois homens, em direcção de uma pilha de madeira, com um tronco no meio. Consegue ver, de relance, duas fogeiras já acesas, com dois corpos, parecem duas bonecas, queimadas. O cheiro a carne assada dá-lhe voltas ao estomago, num misto de fome e agonia.
Atam-na à fogueira, o som é ensurdecedor. Os gritos que, por momentos, pensou que fossem só dela são de toda a aldeia. Crianças, mulheres, velhos, homens, gritam como animais, desejando a morte e o fogo dos infernos.
Chora, grita por clemência, diz-se inocente.
Um homem pequeno que não conhece aproxima-se com uma tocha acesa, que aproxima da madeira. Começa a sentir o calor das labaredas, tenta soltar-se, "Que Deus tenha piedade da tua alma",  ouve o padre dizer na sua voz de homicida, mas de ar compungido. O povo cala-se, benze-se e parece olhar para os céus, pedindo a misericórdia divina.
Um troar enorme parece abrir a terra ao meio, depois, por uma milésima de segundo, um raio ilumina ainda mais o dia que nasce.
Perante o ar compungido do público, começa a chover sem que haja nuvens.
"Bruxa! BRuxa! BRUxa! BRUX..."

As chamas apagam-se, a praça fica vazia. Ela pensa na morte e em Deus, engalfinhada pelo fumo negro da madeira molhada.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Portista

Desde pequeno que sou do Porto e muito levei na cabeça por sê-lo.
Ser do Porto na margem sul era quase uma novidade há 25-30 anos. Numa casa com um portista, um sportinguista e um benfiquista era motivo para algumas brincadeiras, ainda que o irmão, benfiquista, sempre tenha sido mais gozão do que eu ou o meu pai. Lembro-me de o meu pai o mandar para a cama, no célebre 6-3 do Benfica ao Sporting, porque não se calava, picava, gozava e foi, mas vinha à sala sempre que o Benfica aumentava a vantagem.
Admirei, como admiro, alguns jogadores do Porto. Jorge Costa, Madger, Baía, Aloísio, Rui Filipe, Kostadinov, outros...
Uma das maiores mágoas, enquanto adepto, foi a destruição, por parte de alguns treinadores, em conivência com a direcção, daquela dupla mortífera, Domingos e Kostadinov. Nunca percebi, continuo sem perceber. Sempre vi Domingos como um símbolo do Porto, mas os "empurranços" para Espanha, a forma como o aceitaram de volta, como nunca voltou a ter um papel preponderante na equipa, a forma como acabou a carreira. Não gostei. Sempre simpatizei com Domingos, continuo a simpatizar, já percebi que continua a ser persona non grata para Pinto da Costa, que nunca o elogiou como treinador como elogiou, por exemplo, Jorge Costa.
Sou do Porto, mas não me esqueço e há uma parte de mim que gostava de o ver ganhar a Liga Europa, mesmo!
Mas só daqui a uma semana se verá quem sairá vencedor.

Feira do Livro

Convenço a esposa (feliz do homem que não precisa de convencer muito a mulher amada) a darmos um pulo à Feira do Livro. Dia de semana à noite, dia de Festival da Canção (eu prefiro os Festivais de Cação, mas pronto!), noite fresca, pouca gente no recinto, enfim, a Feira convida ao passeio.
Já lá vão uns aninhos desde que participei num dos stands, mas olhando para a feira ontem, a evolução tem sido negativa.
A penumbra é a qualidade que mais me apraz realçar. Caminhando entre as barracas, caminhamos na penumbra, talvez a imagem seja a de que a cultura traz luz, já que a única luz é a do interior de cada um dos stands. Talvez a lição seja a de que os amantes de livros vivem na penumbra, ou de que, pelo menos, gostam de passear entre ela, escondidos, meio envergonhados. Não sei, decidam vocês.
Para mim, que tenho mais de um metro e oitenta, as laterais dos stands não apresentam problemas de maior, para a mulher, um pouco mais baixa do que eu, a altura das laterais impedem-na de ver os livros que "oferecem", vá lá que algumas colocam uma escadinha, mais uma vez, se calhar, a moral é que os leitores querem-se altos.
Depois há uma iniciativa interessante, mas quando a esmola é grande o pobre desconfia, chama-se hora h, deduzo que de Happy Hour, mas poderia ser traduzida para português como Hora uH? Explico, na última hora ou meia hora da Feira, os livros com mais de dezoito meses são colocados com pelo menos 50% de desconto, nos Stands Aderentes. Do que vi ontem, apenas uma pequena parte dos stands aderiram, e mesmo dessa pequena percentagem somente alguns obedecem ao espírito da iniciativa, em alguns há um ou dois livros a 50%, ou mais, de desconto. Penso que outra ideia da Hora H seria possibilitar às editoras o escoamento de livros mais antigos, mas das duas uma, ou as editoras já os têm a preços reduzidos, ou o que têm à venda fazem parte do catálogo mais recente. 
Para quem como eu  trabalhou há alguns anos, e durante alguns anos, na Feira, a actual divisão em feudos estranha-se. Numa das ruas, ao cimo, temos o feudo da Leya, na outra rua, temos o feudo da Babel, claustrofóbico, e ao lado deste o grupo de que fazem parte a Bertrand, Círculo de Leitores, Quetzal, entre outros. Não gosto destes feudos, por um lado porque se colocam à parte, é um círculo restrito, com seguranças e caixas registradoras específicas, fazem aparato com, quase sempre, as últimas novidades, poucos títulos mais antigos são os que conseguimos encontrar. É a mentalidade de hiper mercado que impera, a mim não me agrada.
Com tantas críticas, pode-se deduzir que não gostei da visita, dedução limitada à apreciação da Feira e não tanto ao que dela trouxe.
A noite acabou por se saldar, antes da leitura, num sucesso. Encontrei um Dias de Melo, Mar pela Proa; trouxe dois Ruben A.; Silêncio para 4 e O Outro que era Eu; comprei também dois volumes da colecção Folhas da Cinemateca, um sobre Howard Hawks e outro sobre Ingmar Bergman; mais um volume de homenagem a José Álvaro Morais, provavelmente o meu realizador português de eleição, destaco Zéfiro e O Bobo; deu ainda para comprar Los Libros Arden Mal de Manuel Rivas, autor galego que descobri há pouco tempo.
Podia perorar ainda um pouco como num país pequeno se desconhece e se dificulta a descoberta da obra de Dias de Melo, autor que descobri em São Miguel, o ano passado, mas que é praticamente desconhecido no continente, mas fica para outra altura.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Leituras

Sempre fui compulsivo, embora me pareça que não é essa a imagem que a maior parte das pessoas tem de mim, mas posso estar enganado.
Com a compra e utilização do Kindle a compulsividade tem-se manifestado, ainda mais, na intermitência de títulos que vou lendo (para além dos títulos, também vou lendo as páginas que vêm a seguir. Adiante...).
Nunca consegui ler somente um livro, neste momento tenho demasiados a meio, no início, quase no fim.
Tenho O Assédio de Pérez-Reverte no início, tenho dois Bolaños no início (acho que vão continuar durante algum tempo), mais uns quantos. Mas há alguns que vou lendo devagar porque quero que se mantenham durante algum tempo. Os soldados de Salamina, de Javier Cercas; Todo es Silencio de Manuel Rivas; Um adeus aos deuses, de Ruben A. e Onésimo, Português sem Filtro, de Onésimo Teotónio Almeida são exemplo desta velocidade lenta que tento manter.
Ruben A. e Onésimo são dois dos meus autores/escritores favoritos, Ruben A. pela utilização da linguagem, pelas imagens, onomatopeias que cria, por mostrar que a língua escrita é tão viva como a falada, por vezes mais; Onésimo pelas histórias e anedotas, pelas críticas que faz, pelo humor.
Tendo lido pouco mais de 50 páginas, em castelhano, guardo de Rivas uma capacidade de me fazer imaginar o que escreve, juntando a cultura popular à vivência numa localidade pesqueira. Cercas leva-me a uma busca pelo facto, pela verdade, pelo desconhecido.
Vou lendo diversos estilos, diversos âmbitos, diversos modos de escrever talvez na ilusão de ler de formas diferentes, de apreender experiências diferentes ou de forma diferente.

Mais um regresso

Como acreditam os cristãos, a morte não é o fim, parece confirmar-se com este blog, mais uma vez volto a esta morada no éter, bastantes meses depois da última visita.
Ontem pensava em quanto me apetece escrever, escrevinhar, voltar a ter um cantinho meu, com todas das minhas idiossincracias escarrapachadas neste fundo, agora negro (somente fruto de um gosto, não se trata de um augúrio, pelo menos consciente).