quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ensurdecido pelo som que saía dos phones, ia andando pelos corredores da faculdade.
De repente, viu um sorriso. Sorriso maior que o dia, natural, não forçado, silencioso. Um sorriso que iluminou a cara a que pertencia, tornando a criatura de Deus mais bela do que a julgava poder ser.
pumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpumpum
Podia ser o som do coração, podia, mas não era. Nestas alturas um narrador tem dificuldades em explicitar da forma mais correcta aquilo que quer transmitir.

O som que saía do Leitor de MP3 era o menos adequado a esta situação, certamente que nunca seria utilizado numa cena de amor à primeira vista, se é que é disso que se trata aqui.
O pum pum pum era uma faixa de death metal, pesadíssima, com sons gutorais em quase cada segundo quadrado, uns riffs brutais e quem ouvia isto era um jovem de camisa ao quadrados, calças de bombazina, sapatos de vela e, no momento, de ar atarantado e fixo. Fixo nela.
Ora, como todos sabemos se fixamos o olhar em alguém há um 7º ou 10º sentido que faz com que a pessoa volte, por sua vez, o seu olhar em nós. Foi isso que aconteceu.

O ar atarantado deu a sua vez a uma postura nervosa, a um não saber o que faço, desvio ou não o olhar, sorrio, desmaio - a uma atitude estranhamente normal, que é definida por não se sabe bem o quê.
Ela continuou a sorrir, enquanto olhava para ele, ele olhava não para ela, mas para o sorriso. Os seus lábios conseguiram, na melhor das hipóteses, dependerá aqui sempre do observador, um esgar estranho, entre o sorriso tímido e uma expressão de surpresa.
Avançou até ela,
Olá, Leonor.
Oi, João. Tudo bem?
Esta troca de comunicação entediante e comezinha continuou durante mais alguns momentos. Ele ia ter uma opção, era optara por outra cadeira.

Sentado na sala, sem ouvir uma única sílaba debitada pelo professor, João pensa em Leonor. Há dois anos que a conhece, falam aqui e acolá, sem grandes intimidades. João pensa no sorriso de Leonor e no que ele despertou em si.
Pensa nos dentes brancos, na beleza alegre que pela primeira vez deslumbrou na colega. Como começa o enamoramento?
Por vezes com sons gutorais.
Paradoxalmente, quando os enamoramentos terminam outros sons gutorais soam.

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