quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sequela

Não deverá ser segredo para os que me vão lendo que gosto de filmes de terror, não do terror americano, gore, esventrado, a puxar para as vísceras. Vi dois Saw, os dois Hostels, alguns Pesadelos em Elm Street, mas já não consigo. Sangue por sangue prefiro ver wrestling.

Sou fã do terror atmosférico, daquele que nos dá a entender alguma coisa, daquele em que o som é tão importante como a imagem, daquele que nos põe o sabugo das unhas à mostra.

Filmes como The eye, Dark Water, The Ring (os originais, ok? Sejamos puristas), The Others, Los Sin Nombre, Rec, etc.

Não será à toa que todos estes títulos tenham duas proveniências, a Ásia e a Espanha. Fartei-me do terror americano, mas tenho-me, ao longo dos últimos 3 anos, deliciado com os produtos asiáticos e espanhóis.

Há algo mais que une estes títulos, ou alguns deles, a capacidade de cobrir a realidade social, os hábitos, discutir alguns acontecimentos e as suas repercussões. Neste sentido, acrescentaria o El Spinazo del Diablo, do del Toro, filme interessantíssimo, com temáticas paralelas ao Labirinto do Fauno, mas sem a aura fantasiosa.

Já escrevi anteriormente sobre Jaume Balagueró, um dos argumentistas e realizadores mais interessantes do cinema espanhol actual.

Enquanto argumentista, escreveu [Rec], Películas para no dormir: Para entrar a vivir, Frágiles, The Nun, Darkness, Los Sin nombre, um episódio da uma série de tv, "Nova ficció", com o nome, La ciutat de la sort e as curtas metragens, Días sin luz e Alicia (filmes que invariavelmente realizou, com excepção de The Nun).

De todos os que vi (Rec, Frágeis, Los Sin Nombre, Dias sin Luz, The Nun e [Rec]) o mais fraco, tanto em termos de realização, como de argumento, é - sem dúvida - The Nun. Aliás, The Nun devia ser ignorado na carreira de Balagueró, tão mau que é, prefiro encará-lo como um chiste (mas mesmo como chiste é... mau, foleiro, kitsch).
Confesso que achei piada a Días sin Luz, mas é algo ainda demasiado inicial, com influências sado-maso, pouco recorrentes no resto da obra, embora consigamos identificar algumas características "balaguerianas".

Continuo a ver e a interpretar os filmes de Balagueró com base no primeiro filme que vi - Los Sin Nombre - já que a temática do mal, da sintetização deste, é recorrente.

Em Los Sin Nombre, uma mãe recebe o telefonema da filha, dada como morta (identificada) há uns anos atrás. Tentará perceber se se trata realmente da filha. Ao mesmo tempo, seguimos as pisadas de um ex-polícia tentando descobrir algo sobre um grupo que tenta destilar o mal puro. Claro que no final as duas histórias se juntam num dos finais mais arrepiantes e perturbadores que me lembro (sem sangue. O que é admirável).

Ora, se neste filme o que se vê são os laços entre mãe e filha, e por outro a tentativa de definir "cientificamente" o mal, de limitá-lo ou recriá-lo, em Frágeis, há uma espécie (ou mais do que uma, mesmo) de relação entre mãe e filhos. Vemos o relacionamento de diferentes perspectivas, a do fantasma será a mais interessante, e o amor é definido, recriado, espandido e redefinido, chegando à loucura.

Depois temos um dos mais brilhantes e extenuantes filmes de terror, o acagaçante REC.

A história é simples. Angela, repórter televisiva, e Pablo, o seu cameraman, estão a fazer uma reportagem sobre a noite-a-noite dos bombeiros de um dos quartéis de Barcelona. Seguem dois bombeiros numa emergência. Os vizinhos ouviram uma vizinha idosa aos berros. Chegam ao prédio e, depois de entrar em casa da velha, esta ataca um dos bombeiros.
Em menos de nada, encontram-se num prédio em quarentena e com mais vítimas em mãos. Tudo isto filmado com uma câmara ao ombro à boa maneira de Cloverfield, mas sem as dores de cabeça. (Em BlairWitch enjoei, em Cloverfield menos, mas também! Há coisas que só lá vão com dores de cabeça).

De modo que esqueçam o Blair Witch (só hype), esqueçam as técnicas de Cloverfield. REC está gravado realmente com a câmara ao ombro, não dá dores de barriga, só ansiedade. Obviamente que há ângulos que foram propositadamente escolhidos, mas... pronto! A gente desculpa pelo resultado.

Concluindo, continua em Rec a temática do mal, mas agora o mal puro, o mal destituído de qualquer marca humana ou de personalidade, e de certa forma a ligação com Los Sin Nombre é maior (mas para isso tinha de contar o fim do filme, e isso não faço).

É por isso que anseio como se não houvesse amanhã a estreia ou saída em DVD de REC2.
Sim, sim, o sabugo vai continuar à mostra.







PS. [Rec] tem sangue, muito sangue, mas o que esperavam dum filme de zombies?

PS.2 Balagueró já saiu de cena, mas Rec3 vai ser uma realidade. Oh, well...

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