quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ouvindo

Ela senta-se ao seu lado. Começam a falar sobre como será o céu, se haverá céu e vida depois da morte. Ele deve ter mais de cinquenta anos, é alentejano, paira aqui várias vezes. Sabe de tudo (pressupõe), fala de tudo (efectivamente). De finanças (acções), mas também de Totoloto (como ganhar no Totoloto), saúde, futebol, política, hábitos culturais, normas sociais. Ouvi-lo falar do transcendente é uma estreia para mim.
Ela é mais nova do que ele, deve ser alentejana, avaliando pela repetição do "que Deus tem", ainda que pela conversa percebo que não acredite em Deus.
Talvez por terem começado a falar do céu, ela tenta falar do seu pai, que Deus tem, da sua mãe, que Deus tem, e também do marido, sim, que Deus também tem.
Ele não a ouve, está demasiado ocupado com a sua voz, pára, ela volta a tentar entrar na conversa, ele sente saudades da sua voz e continua.
Pensa em voz alta, mais do que conversa. Fala sobre Deus, morte, reencarnação, espíritos, sonhos, magias (branca e negra).
Eu desligo. É "ecumenismo" a mais para as nove horas da manhã que  relógio marca.

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