Lars Kepler não é uma pessoa, são duas, Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril. Se querem mesmo saber a senhora é filha de uma portuguesa, ainda bem que escreveram esta série usando um pseudónimo, senão andaríamos à procura dos seus livros na secção de autores portugueses, como me aconteceu com o Daniel Silva.
Neste momento há dois romances editados em português, o primeiro é O Hipnotista, primeira obra em conjunto, o segundo é O Executor.
Para variar, comecei pelo segundo e gostei, mas depois li o primeiro e a verdade é que a estreia parece-me mais forte do que a continuação.
Em O Hipnotista somos confrontados com o assassínio brutal de uma família (pais e filha), o filho resistiu e está internado no Hospital, tornando-se a única testemunha do crime.
Joona Linna, o herói da série, polícia da Judiciária, responsável pelo caso, pede ajuda a Erik Maria Bark, médico e antigo hipnotista, que jurou publicamente nunca mais praticar a hipnose. Convencido por Joona, Erik quebra a promessa e daqui para a frente tudo parece correr mal, o seu filho é raptado e Erik vai ter de confrontar-se com o seu passado.
O romance de estréia é uma tour de force, com 560 páginas, num estilo pormenorizado e detalhado, com alguns flashbacks que poderão não agradar a todos, eu delirei. Trata-se de uma história negra, cruel, que não nos deixa respirar (alguns respirarão nos flashbacks, mas é tudo uma questão de estilo e gosto). Quando terminei O Executor, refilei com as comparações a Stieg Larson, comparações que compreendo depois de ter terminado o primeiro livro.
Joona Linna é mais um polícia marcante dos policiais nórdicos, inteligente como todos (wallander, Winter, Hole), persistente (como os anteriores), perspicaz, um pouco cagão, com problemas nas afeições pessoais (confere), mas, ainda assim, mais comedido nas suas desgraças (é difícil descer mais baixo do que Harry Hole).
A força de o Hipnotista é a descrição pormenorizada dos estados de alma das personagens, ora quando se fala de um livro que descreve um grupo de pessoas com problemas psicológicos, essa força é digna de realce.
O segundo romance de Lars Kepler, O Executor, é ligeiramente menos negro, penso que mais por defeito do que por vontade. Se calhar esta minha opinião parte do maior interesse que o primeiro livro me despertou, já que pensando retrospetivamente o livro é negro, cruel, mas se calhar é menos violento para o leitor do que o segundo, é mais cinematográfico, mais visual, enquanto o primeiro me surpreendeu mais psicologicamente.
Avancemos, o enredo de O Executor começa com o aparecimento de uma mulher morta num barco no arquipélago de Estocolmo. No dia seguinte, Carl Palmcrona, director-geral de Armamento e Infraestruturas de Defesa da Suécia, é encontrado enforcado em casa. Joona Linna desconfia da hipótese suicídio e recusa-se a dar o caso como encerrado.
Pouco a pouco, Linna e o leitor começam a perceber de que modo estas duas mortes estão ligadas.
O Executor insere-se, mais facilmente, no chamado Policial Nórdico pela sua trama, as questões da guerra em África, o tráfico de armas e a violência de estrangeiros em solo sueco, tão caras a Mankell, estão presentes aqui.
Confesso que gostei muito do que li, (acabo de saber que se trata de uma série de 8 volumes,
aqui), mas desgostei um pouco da opção final de trazer spoilers, mais pelo spoiler em si, que me parece demasiado telenovelesco.
Leim e digam de vossa justiça.