Supergods de Grant Morrison (o título completo é Supergods. What Masked Vigilantes, Miraculous Mutants, and a Sun God from Samallville can Teach Us about Being Human) é um livro sobre comics. Confesso que não era o que eu estava à espera.
Os primeiros capítulos descrevem a criação e interpretação das Golden, Silver e Dark Ages. O que Morrison relata não é tanto a história da Indústria, embora ela esteja lá, mas a evolução dos Super-Heróis ao longo das décadas, as diversas relações entre os comic books e a cultura/política da época e a interpretação diversa dos autores de BD desses mesmos Super-Heróis.
O problema, para mim, do livro é que é um misto, por um lado uma análise do nascimento e evolução dos comic books, nomeadamente dos Super Heroes Comic books, por outro lado uma autobiografia de Morrison.
No que à análise diz respeito, Morrison, ainda que descrevendo sumariamente os autores e a indústria, enfatiza as criações, olhando-as como super deuses modernos, velhos deuses em 2D, novas roupagens para velhos mitos. O que torna interessante a leitura é a ligação que Morrison faz entre a sociedade e os comics (ia escrever livros de Banda Desenhada, mas o foco de Morrison são os Comic Books da Marvel e DC, depois da Image, ou seja, os comics Americanos, mas também os ingleses. Os franceses, por exemplo, ficam de fora neste estudo.), a constatação de que os heróis mudam consoante o espírito da época, a década de quarenta com a segunda Guerra Mundial; a década de 50 com o início da Guerra Fria, o medo da Bomba; a década de 60 com a Guerra do Vietname, o psicadelismo e as drogas, com o “boom” do feminismo alteram o carácter dos heróis, mais concretamente o espírito e contexto das histórias. Morrison compara os X-Men da década de 60, aquando da sua criação, com os afro-americanos, a segregação, o ódio racial.
A reutilização e reinterpretação dos heróis é o foco das três primeiras partes do livro e é isso que o torna interessante, a análise dos diferentes estilos, a evolução do médium, as guerras de copyrights (Marvelman continua num limbo até hoje) são alguns dos tópicos.
A partir da 3ª parte, a autobiografia toma conta do discurso, pessoalmente, e por muito que goste de algumas obras de Morrison, a análise do poder e importância das drogas, bem como experiências místicas, na sua obra foi demasiado. Pensei que estava a ler um volume evangelístico e psicadélico dos anos 60. Claro que estas experiências são importantes para se perceber tudo, ou quase tudo, aquilo que Morrison escreveu (com ênfase para Animal Man, Doom Patrol, The Invisibles e outros tantos). Mas, e ainda me faltam 6 ou 7 capítulos para acabar de ler o livro, poucas respostas concretas há para o subtítulo da obra, a pergunta indirecta consegue respostas indirectas, por enquanto, mas mais do que SuperGods, parece-me que estamos mais na presença de um demiurgo, o que não sendo algo mau à partida, poderia ter sido atenuado por uma alteração de título. Mas como disse, ainda me faltam alguns capítulos para terminar o livro.
Antes de terminar, duas notas.
1) Essencialmente, os SuperGods analisados são os das duas grandes editoras, a Marvel e a DC, ainda que com maior preponderância para a DC, aqui não será de estranhar o contrato de exclusividade de Morrison com a Editora da Warner;
2) Se é verdade que os capítulos estão ordenados cronologicamente, não é menos verdade que quando Morrison avalia as duas editoras a cronologia avança e recua, o que somando às experiências pessoais do escocês aumenta um pouco o caos temporal. Conhecendo Morrison, o problema até lhe deve agradar!
De qualquer modo, parece-me um livro interessante para todos os que querem perceber melhor este medium, especialmente aqueles que gostarem de trips:P
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