Convenço a esposa (feliz do homem que não precisa de convencer muito a mulher amada) a darmos um pulo à Feira do Livro. Dia de semana à noite, dia de Festival da Canção (eu prefiro os Festivais de Cação, mas pronto!), noite fresca, pouca gente no recinto, enfim, a Feira convida ao passeio.
Já lá vão uns aninhos desde que participei num dos stands, mas olhando para a feira ontem, a evolução tem sido negativa.
A penumbra é a qualidade que mais me apraz realçar. Caminhando entre as barracas, caminhamos na penumbra, talvez a imagem seja a de que a cultura traz luz, já que a única luz é a do interior de cada um dos stands. Talvez a lição seja a de que os amantes de livros vivem na penumbra, ou de que, pelo menos, gostam de passear entre ela, escondidos, meio envergonhados. Não sei, decidam vocês.
Para mim, que tenho mais de um metro e oitenta, as laterais dos stands não apresentam problemas de maior, para a mulher, um pouco mais baixa do que eu, a altura das laterais impedem-na de ver os livros que "oferecem", vá lá que algumas colocam uma escadinha, mais uma vez, se calhar, a moral é que os leitores querem-se altos.
Depois há uma iniciativa interessante, mas quando a esmola é grande o pobre desconfia, chama-se hora h, deduzo que de Happy Hour, mas poderia ser traduzida para português como Hora uH? Explico, na última hora ou meia hora da Feira, os livros com mais de dezoito meses são colocados com pelo menos 50% de desconto, nos Stands Aderentes. Do que vi ontem, apenas uma pequena parte dos stands aderiram, e mesmo dessa pequena percentagem somente alguns obedecem ao espírito da iniciativa, em alguns há um ou dois livros a 50%, ou mais, de desconto. Penso que outra ideia da Hora H seria possibilitar às editoras o escoamento de livros mais antigos, mas das duas uma, ou as editoras já os têm a preços reduzidos, ou o que têm à venda fazem parte do catálogo mais recente.
Para quem como eu trabalhou há alguns anos, e durante alguns anos, na Feira, a actual divisão em feudos estranha-se. Numa das ruas, ao cimo, temos o feudo da Leya, na outra rua, temos o feudo da Babel, claustrofóbico, e ao lado deste o grupo de que fazem parte a Bertrand, Círculo de Leitores, Quetzal, entre outros. Não gosto destes feudos, por um lado porque se colocam à parte, é um círculo restrito, com seguranças e caixas registradoras específicas, fazem aparato com, quase sempre, as últimas novidades, poucos títulos mais antigos são os que conseguimos encontrar. É a mentalidade de hiper mercado que impera, a mim não me agrada.
Com tantas críticas, pode-se deduzir que não gostei da visita, dedução limitada à apreciação da Feira e não tanto ao que dela trouxe.
A noite acabou por se saldar, antes da leitura, num sucesso. Encontrei um Dias de Melo, Mar pela Proa; trouxe dois Ruben A.; Silêncio para 4 e O Outro que era Eu; comprei também dois volumes da colecção Folhas da Cinemateca, um sobre Howard Hawks e outro sobre Ingmar Bergman; mais um volume de homenagem a José Álvaro Morais, provavelmente o meu realizador português de eleição, destaco Zéfiro e O Bobo; deu ainda para comprar Los Libros Arden Mal de Manuel Rivas, autor galego que descobri há pouco tempo.
Podia perorar ainda um pouco como num país pequeno se desconhece e se dificulta a descoberta da obra de Dias de Melo, autor que descobri em São Miguel, o ano passado, mas que é praticamente desconhecido no continente, mas fica para outra altura.
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